Inovação
Sonhos ganham forma no IFSul
Projeto Diana, desenvolvido por alunos do curso técnico em Eletrônica, ganha o mundo pela funcionalidade e a praticidade
Paulo Rossi -
Dentro de uma sala no segundo andar do campus Pelotas do Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul), estudantes com menos de 20 anos colocam seus sonhos em prática. Entram em ação projetos de máquinas, carros elétricos, sistemas eletrônicos para dar praticidade para alguma atividade produtiva ou à vida de alguém. E foi dentro do Laboratório 14 que dois jovens pelotenses com menos de 20 anos deram vida ao projeto Diana, uma estufa com sensores eletrônicos capazes de controlar a luz, a água e as condições climáticas, que pode ser acionada por um celular ou um computador, mesmo longe do local.
O "Catorze", como é chamado o laboratório pelos estudantes, existe desde 2006 no segundo andar do Campus Pelotas e já colocou em prática projetos como um automóvel elétrico com peças reaproveitadas, por exemplo. O ambiente foi fundamental para o desenvolvimento da iniciativa. A sala oferece equipamentos como ferramentas para montar todas as peças dos projetos e entender todo o processo de funcionamento.
Este foi um diferencial observado no Genius Olympiad, competição científica voltada ao meio ambiente na cidade de Oswega, nos Estados Unidos. No evento, os estudantes Carlos Eduardo Bastos, de 19, e Gustavo Ludtke da Silva, 18, foram destaque na categoria Ciência, quando conquistaram a medalha de bronze, superando outros 1,5 mil projetos. Os dois foram responsáveis pela elaboração do projeto e o colocaram em ação: os dois construíram todas as peças utilizadas no protótipo. Na hora de explicar a funcionalidade, sabiam a serventia e a aplicabilidade de cada detalhe. Foram horas dentro do laboratório planejando, trabalhando, convivendo e amadurecendo a ideia.
Da ideia à prática
Carlos começou a pensar no Diana enquanto assistia à televisão na casa dos pais. Na tela, uma reportagem sobre irrigadores automáticos. O aparelho apresentado analisava e reconhecia a umidade do solo para, por conta própria, despejar água nas plantas para facilitar o trabalho agrícola. Além da funcionalidade, o projeto era capaz de gerar economia de água, despejando no solo apenas o necessário.
Dentro do laboratório com a orientação do professor Rafael Galli e com o colega Gustavo, o projeto foi potencializado para captar outros dados e interferir ainda mais na plantação. "O lado bom de participar dessas feiras é a troca de ideias, as críticas que recebemos que nos fazem pensar em como aprimorar ainda mais o Diana", explica Gustavo.
Devido ao fato de os dois estudantes serem também quem colocou a mão na obra para ver a microestufa de pé, foi possível economizar dinheiro. Sensores que custam uma média de R$ 150,00 foram confeccionados com peças no valor de R$ 0,30, obtendo os mesmos resultados comparados através de testes.
Para diferentes públicos
Com dispositivos instalados no interior de uma microestufa, o sistema consegue identificar a temperatura, a luminosidade e a umidade relativa do solo e do ar. Sob posse destes dados, quem utiliza o sistema pode interferir escolhendo as condições climáticas mais próximas das necessidades de cada cultivar. Os dados são transmitidos em tempo real para o responsável, que é capaz de controlar cada fator.
A partir de controles acionados por celular ou por um computador, é possível interferir com irrigadores, exaustores, sistemas de aquecimento e de iluminação. O sistema planejado por Carlos e Gustavo é possível de ser utilizado em larga escala. "Ele possibilita também, para um mesmo responsável, o poder de administrar diversas estufas independentes ou uma grande. Depende do interesse e da demanda de cada produtor rural", comenta.
A estufa pode ser controlada e configurada a distância através da tecnologia bluetooth. Além de propiciar o clima desejado, lembram os criadores, o sistema de estufa não é afetado por intempéries climáticas e tem o viés sustentável do bom uso dos recursos hídricos. "O sistema também facilita a vida do agricultor, que pode ter uma rotina menos cansativa controlando sua produção por um celular", exemplifica. Por não necessitar de luz solar, o projeto pode ser aplicado também em ambientes internos como apartamentos e pequenas residências.
Reconhecimento internacional
O projeto Diana já acumula prêmios e experiências. A primeira foi na Mostra de Ciência e Tecnologia (Mocitec) em 2017, no campus Charqueadas do IFSul. Também no ano passado, o projeto foi apresentado na Mostratec, em Novo Hamburgo. Lá, eles foram convidados a apresentar seu projeto para produtores de Mendoza e na cidade de General Alvear, ambos na Argentina. O projeto chamou a atenção dos produtores de uva, que enfrentam uma crise hídrica na região, onde a plantação é irrigada com água das geleiras.
Neste ano, veio a seleção na mostra em Oswega, estado de Nova York, nos Estados Unidos. O Diana foi selecionado entre três mil trabalhos de 73 países, e recebeu o prêmio de terceiro lugar na categoria ciências.
Todas as viagens tiveram o apoio da reitoria do IFSul. "Cada feira é um passo à frente. E tem a importância de debater as funcionalidades do Diana com a cadeia produtiva, que já trabalha com isso e tem experiência para propor alterações no projeto", conta entusiasmado Carlos Eduardo. Os dois estudantes permanecem desenvolvendo novas funções para o Diana e pretendem ingressar no curso de Engenharia Elétrica do IFSul.
"O reconhecimento também mostra que eles não estão distantes do que está sendo feito, pensado e criado no mundo inteiro", elogia o professor Rafael Galli.
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